Suspeita de ter mandato matar o marido, a médica Daniele Barreto Oliveira, de 46 anos, escreveu duas cartas dentro da cadeia relatando ter sido vítima de uma série de abusos sexuais praticados pelo advogado criminalista José Lael de Souza Rodrigues Júnior, de 42 anos. Daniele e José Lael estavam casados, mas não dividiam mais a mesma cama. Ele foi morto a tiros no dia 17 de outubro em Aracaju, vítima de uma emboscada. Para a delegada Juliana Rangel Guedes Alcoforado, o assassinato foi encomendado por Daniele, que é cirurgiã plástica.
Em uma carta de 12 páginas escrita à mão, Daniele detalha abusos sexuais, físicos, patrimoniais e psicológicos sofridos nas mãos de José Lael ao longo de vários anos, além de possíveis tráficos de armas e envolvimento em homicídios. Segundo seu relato, ela apanhava frequentemente, recebendo tapas, murros e puxões de cabelo. Em um dos trechos, ela conta que, para não deixar marcas em seu corpo, José Lael a amarrava e arrancava tufos de cabelo. O advogado também teria instalado câmeras escondidas no quarto para monitorá-la e gravado estupros, com o objetivo de assistir às imagens posteriormente.
Daniele entregou à sua defesa dois vídeos como provas. Em um deles, a médica aparece dopada em sua cama, inconsciente, enquanto José Lael força o pênis em sua boca e ejacula em seu rosto. Em outro vídeo, Daniele olha para a câmera e diz: “Acabei de apanhar dele. Ele está me ameaçando. Meu rosto está vermelho.
As cartas e os vídeos serão anexados ao processo pela defesa de Daniele.
Ela não vai confessar simplesmente porque é inocente —, assegurou o advogado Claudio Dalledone, defensor da suspeita.
Outros depoimentos reforçam as acusações contra José Lael. Matheus Aniel de Jesus, ex-estagiário do criminalista morto e estudante de Direito, afirmou que o advogado cometia crimes financeiros e processuais, incluindo golpes em clientes. Segundo Matheus, de 30 anos, seu ex-patrão costumava receber dinheiro de presos para acompanhamento de execuções penais, mas os enganava. Em um dos casos, Lael teria dado um golpe de R$ 30 mil em um criminoso conhecido como Rafa Boy.
Trecho da carta da médica cirurgião plástica Daniele Barreto, acusada da mandar matar o marido — Foto: Reprodução
Daniele e Lael estavam separados, apesar de dividirem o mesmo teto. O casal tinha um filho de 12 anos. Ambos teriam usado o nome da criança para abrir uma conta bancária e ocultar cerca de R$ 12 milhões de credores. A médica também enfrenta processos de danos morais movidos por ex-pacientes insatisfeitos com seus procedimentos estéticos.
Em sua carta, Daniele detalhou fraudes financeiras que atribui ao ex-marido, incluindo a falsificação de documentos para contrair 15 empréstimos no Banco do Brasil e a utilização de cartões de crédito em seu nome sem autorização.Ela também relatou que Lael estava envolvido em tráfico de armas e homicídios, tendo participado de transações ilegais que resultaram na morte de um preso recém-libertado. Em outro episódio, Lael foi preso em Jequié por dirigir um carro clonado. Segundo Daniele, ele costumava portar armas de fogo e apontá-las para seu rosto durante brigas.
No dia do crime, Lael saiu com o filho, Guilherme Rodrigues, de 20 anos, para comprar um açaí a pedido de Daniele. Assim que deixaram o prédio, foram perseguidos por dois homens em uma motocicleta. Lael foi morto a tiros dentro do carro, enquanto Guilherme foi ferido, mas sobreviveu. Imagens de câmeras de segurança indicam que o crime foi cuidadosamente planejado, com os envolvidos circulando pela área momentos antes do ataque.
A polícia mantém Daniele como a principal suspeita do crime. Para os investigadores, as evidências mais contundentes são as imagens que mostram Daniele, sua amiga e sua secretária — que seria sua namorada — no bairro onde os pistoleiros contratados moravam. As três foram vistas na região poucos dias antes do crime e, no dia do assassinato, estariam em um carro que deu suporte aos atiradores.
A Secretaria de Segurança Pública de Sergipe informou que não vai comentar a divulgação da carta e que o inquérito está em andamento.
Com informações de Ullisses Campbell