Ex-advogado da família do presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef afirmou, em entrevista ao Estadão, que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) agiu “de forma autônoma e independente” e “com poder de polícia” ao produzir um relatório que gerou uma investigação contra ele.
As declarações de Wassef ocorrem após o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1) julgar ilegal o Relatório de Inteligência Financeira produzida pelo órgão e determinar a Polícia Federal abra inquérito para apurar se houve desvios na elaboração do documento.
“Ele (Coaf) saiu agindo de forma autônoma e independente, com poder de polícia, como se fosse um órgão de persecução penal e passou a deliberadamente quebrar meu sigilo e iniciou uma investigação. De forma minuciosa, passaram a detalhar toda a minha vida financeira,” disse Wassef.
O relatório do Coaf foi gerado dias após a operação que prendeu o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz, em um endereço de Wassef, em junho do ano passado, em Atibaia (SP).
Na avaliação dos desembargadores do TRF-1, não havia hipótese legal para a expedição do relatório. O entendimento foi o de houve “geração espontânea”. Ao tribunal, o Coaf afirmou que seguiu o procedimento interno padrão e se baseou em comunicações de origens distintas.
Ao Estadão, Wassef disse acreditar ter sido “escolhido a dedo”. Ele afirmou que virou um “alvo personalíssimo” em um movimento que, segundo ele, seria uma manobra política para atingir Bolsonaro. “Simplesmente fui vítima de um crime.” Para Wassef, o Coaf foi aparelhado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro em sua passagem pelo governo federal. “Uma péssima herança “
Como o relatório do Coaf foi anulado pelo TRF-1, o inquérito sobre Wassef aberto a partir do documento foi suspenso. A investigação se debruça sobre pagamentos de R$ 9 milhões da JBS, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista, a Wassef entre 2015 e 2019.
Procurado pela reportagem, o Coaf informou que, por força de disposições legais, não comenta casos específicos. Também negou atuar como órgão de investigação ou de persecução penal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.